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Alguns pensamentos sobre “documentação ágil”

Existe um mito de que não se documenta em projetos que usam metodologias de desenvolvimento ágil. Não é bem assim, aliás, não chega nem perto de ser verdade.

A grande diferença entre projetos “tradicionais” e de desenvolvimento ágil é que os processos tradicionais geralmente são bastante prescritivos e você tem que documentar tudo que estiver definido no processo (que geralmente é muita coisa). Você não pensa no que está fazendo, simplesmente segue o que foi definido e escreve documentos. Em métodos ágeis não há prescrição de documentação (e o manifesto ágil fala também sobre “software funcionando mais do que documentação”), mas isso não significa que você não pode documentar nada. Muita gente confunde isso e diz que nunca se deve documentar em projetos “ágeis”, o que é um grande engano. Em projetos ágeis você pode documentar sem problemas desde que seja necessário de fato. A idéia é que você não deve perder tempo com nada que não seja requerido de verdade para o projeto.

Já participei de projetos onde documentar foi extremamente necessário. Por exemplo, uma vez trabalhei num projeto com vários times onde nem sempre os desenvolvedores estavam no mesmo espaço físico, portanto era preciso documentar alguns pontos chave da arquitetura e ambiente para que todos pudessem trabalhar sem problemas. Também já participei de situações onde meu time desenvolvia componentes que precisavam ser usados por outros times, e esses componentes precisavam estar bem documentados para que os outros times pudessem trabalhar adequadamente. Note que isso é totalmente diferente de documentar o projeto inteiro ou escrever dezenas de casos de uso. Documentamos apenas o que fazia sentido ser documentado.

Enfim, há diversas situações onde você pode precisar documentar por diversos motivos. Para te ajudar a decidir quando documentar e como documentar, veja a seguir alguns princípios do que chamei de “documentação ágil”. Essas são apenas algumas práticas úteis e princípios importantes que observei ao longo do tempo em diversos projetos de que participei. Certamente existe muito mais do que isso, mas vamos lá:

Documentação não substitui comunicação

Em projetos tradicionais, muitos documentos são usados para comunicar idéias entre o Analista e o Programador, com QA e por ai vai. Em desenvolvimento ágil o objetivo da documentação é registrar as informações por outros motivos (como os motivos acima). Se você estiver se comunicando por documentos, você já deixou de ser ágil há muito tempo. Documentação não deve ser usada para substituir a comunicação intensa e constante entre os membros do time.

Documentação não pode ser perecível

Documentação tem que ser leve e não pode ser perecível, ela deve ser durável. Se você documenta algo que precisa ser modificado todo dia, existem grandes chances de você esquecer de atualizar a documentação e ela passa a ficar desatualizada. É melhor não ter documentação do que ter documentação errada. Além disso, se você precisa mudar a documentação toda hora significa que você está se aprofundando demais nos detalhes, e então a documentação vai “quebrar” a cada linha de código que você escrever. Quando estiver documentando, pergunte-se: “daqui a algum tempo essa documentação ainda será válida?”. Faça documentação durável. Não entre num nível de detalhe que te faça mudar a documentação o tempo todo (a não ser que você realmente precise disso – e mesmo assim pense se não dá pra fazer de outro jeito, por exemplo, automaticamente).

Documente o necessário, e não mais do que isso

Assim como você deve implementar apenas o necessário para entregar uma funcionalidade e não mais do que isso, você deve documentar apenas o que for necessário e nada mais do que isso. Não perca tempo escrevendo documentação que nunca será usada por ninguém. Se ninguém precisa usar a documentação, então ninguém deve documentar. Documento tem que ter um motivo, documentar sem uma necessidade real não faz sentido

Documentar tem que ser fácil

Documentar tem que ser rápido, não pode dar trabalho. Use ferramentas como wikis, geradores de documentação (como o Sphinx) e por aí vai. Se for fácil documentar, as chances de você fazê-lo serão maiores. No caso de não usar wiki (ou alguma coisa online/web), use ferramentas para publicar a documentação automaticamente. Se a documentação for fácil de ser acessada (e tiver busca) ela fica mais útil. Além disso, prefira usar uma tecnologia fácil e conhecida para que todos os membros do time possam documentar. Por exemplo, se você escolher usar LaTeX, você está reduzindo as chances de designers documentarem, pessoas de negócio e outros membros não-programadores de um time.

Documentação faz parte do “Definition of Done”

Se o seu projeto precisa de documentação por qualquer motivo, a documentação deve fazer parte da “Definition of Done”. É melhor documentar no momento que as histórias estao sendo desenvolvidas – quando o conhecimento está fresco na cabeça – do que acumular um monte de débito e ter que pagar de uma vez só – quando você vai precisar conferir um monte de coisas que já estão prontas para documentar com precisão, o que vai te dar mais trabalho e consumir mais tempo.

Documentação no código pode ser um “code smell”

“Code smell” é um sintoma no seu código que pode indicar um problema maior. Muitas vezes códigos precisam ser documentados porque eles são desnecessariamente complexos. Sempre que possível prefira refatorar o código para ele ficar mais fácil de entender ao invés de escrever comentários (até porque muitas vezes o código muda e o comentário fica lá desatualizado, e isso acaba mais atrapalhando do que ajudando). Tenha uma boa suite de testes (uma suite bem escrita e organizada é uma especificação executável), use Domain-Driven Design para expressar melhor o domínio do software, metáforas, tenha um design simples, use design patterns, enfim, é melhor fazer com que o software seja mais bem escrito e não mais bem documentado.

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2 anos de Scrum e Agile na Globo.com e algumas coisas que eu aprendi

Já se passaram pouco mais de 2 anos desde que começamos a trabalhar oficialmente com Scrum e Agile na Globo.com e um pouco mais de 2 anos e meio desde que a coisa toda começou de fato.

Depois de trabalhar diariamente com processos ágeis e uma porção de times diferentes na Globo.com, minha sensação é a daquele dito popular que diz que quanto mais você sabe de alguma coisa, mais você descobre que tem que aprender. De tempos em tempos surgem idéias novas excelentes e as vezes são coisas tão simples que eu me pergunto porque nunca tinha pensado nelas. Ou então algumas idéias que não deram certo no passado voltam à tona, são colocadas em prática e passam a funcionar muito bem. Sempre que eu acho que já aprendi como alguma coisa funciona alguém aparece com uma idéia melhor e me prova que eu estava errado em achar isso.

Me lembro quando perguntei lá no início para o Boris Gloger sobre o tempo que levaria para as coisas acontecerem. Na época ele falou que para uma empresa do tamanho da Globo.com certamente levaria de 2 a 4 anos para as coisas mudarem de fato. Eu achei um exagero e que ele estava louco, mas era eu que não tinha noção do tamanho da coisa toda. Ele estava certo.

Infelizmente eu não tenho uma história romântica para contar e estaria mentindo se dissesse que as coisas são maravilhosas depois que você adota Agile, Scrum ou o que quer que seja. Muito pelo contrário, os problemas começam a aparecer e tudo fica caótico. As vezes a quantidade de problemas chega a ser enlouquecedora e minha insônia aumentou consideravelmente depois disso. Mas eu não tenho nenhuma dúvida de que os processos ágeis são os que mais se adaptam às características de projetos de desenvolvimento de software, mais do que qualquer outra coisa que eu já tenha usado. Tivemos muito mais sucesso do que em qualquer outra iniciativa na história da empresa e as coisas acontecem muito mais e muito melhor do que aconteciam antes, mas mesmo assim ainda temos um caminho muito longo pela frente.

Hoje eu consigo entender com mais clareza o real sentido do empirismo que tanto se fala. Mesmo com pilhas de livros sobre desenvolvimento ágil na minha prateleira, eu olho para trás e vejo que o processo de “tentativa e erro” foi muito mais importante para o meu aprendizado do que qualquer teoria. Várias coisas escritas nos livros deram certo para alguns times e não deram para outros, e no fim das contas o que ficou foi uma mistura de todas essa experiências. Fomos fazendo as coisas, vendo o que dava certo ou errado, mudando, adaptando e seguindo em frente. Hoje não dá pra dizer que a Globo.com usa Scrum, XP, Lean ou Kanban. Você pode encontrar todos os seus sabores preferidos de Agile por aqui, às vezes misturados e até mesmo bem customizados e diferentes do tradicional.

Nesse tempo todo vivenciei muitos problemas, muitos sucessos, muitas derrotas, muitas falhas e muita mudança. Eu queria poder dizer que encontrei o Santo Graal do desenvolvimento ágil, mas dificilmente isso existe. E se existir, provavelmente o da minha empresa será diferente da sua e por ai vai. Porém, eu posso falar de algumas coisas que eu aprendi e que talvez possam ser úteis para outras pessoas e empresas:

Você sempre estará em transição.

Basicamente eu não acredito mais em transição ágil como eu já li por ai, que parece uma coisa que tem inicio, meio e fim. Hoje eu percebo que sempre se está em transição. Sempre surgirão projetos novos com características diferentes e sempre será necessário ajustar e se adaptar. Isso tudo fora que as pessoas e os times também mudam, e ai começa tudo denovo. É um trabalho que nunca acaba.

É muito fácil começar a fazer Scrum, o difícil é vencer a resistência das pessoas.

Grande parte do meu tempo nesses anos foi investido em quebrar barreiras e a resistência das pessoas. E não estou falando de diretores ou gerentes, às vezes os piores problemas estão dentro dos times. Os mais diversos tipos de problemas acontecem: tem gente que tem medo de trabalhar em par e expôr suas fraquezas para os outros, tem gente insatisfeita na empresa que envenena iniciativas, enfim, acontece de tudo. É muito importante trabalhar com pessoas bem intencionadas, comprometidas e que acreditam no que estão fazendo e que acreditam que as coisas sempre podem (e devem) ser melhoradas.

As pessoas precisam estar felizes.

É importantíssimo que a empresa reconheça seus talentos, que eles ganhem o que merecem e que eles trabalhem num ambiente agradável. Ninguém trabalha direito e dá 100% do seu potencial se não estiver feliz e satisfeito com a empresa. Pessoas infelizes e insatisfeitas podem acabar com um time inteiro, por isso a empresa tem que dar o primeiro passo e dar todas as condições para que isso não aconteça e, quando acontecer, resolver o problema o mais rápido possível.

Se o foco das pessoas for em “fazer telas”, “testar” ou “escrever software”, você está perdido. O foco das pessoas deve ser o produto, e não a sua função.

Muito desenvolvedor não gosta de fazer teste exploratório “porque isso é função do cara de QA”. Muito designer não gosta de fazer CSS e HTML porque isso é coisa de “desenvolvedor de front-end”. Bullshit! Imagine se um zagueiro está com a bola na linha do gol e diz que não vai fazer o gol porque não é atacante? Não tem essa, o foco é ganhar o jogo, entregar o produto, deixar o cliente feliz, não importa fazendo o que. Com o tempo você descobre a receita do time (quantidade de pessoas de cada especialidade) para que as pessoas passem a maior parte do tempo fazendo sua especialidade, mas isso não significa que elas não devem fazer ou entender de outras coisas.

Escalar não é facil. Aliás, se for possível, não escale nunca.

Times ágeis funcionam melhor quando são pequenos, porque o universo de pessoas é menor e a comunicação é melhor, as pessoas confiam mais no resto do time e por aí vai. Quando o número de pessoas e de times aumenta, a comunicação fica problemática e isso gera uma porção de problemas, desde coisas triviais como conflitos de merge até coisas mais complexas de resolver como falta de confiança, dificuldade em mudar de direção, dificuldade de passar a visão do produto, pessoas querendo aparecer mais do que outras e por aí vai. Faça um teste: reuna 30 amigos seus e tentem combinar um lugar para almoçar em no máximo 2 minutos. Repita o teste com 3 amigos e compare os resultados. Foi possível combinar um único lugar de forma unânime? Quanto tempo levou? Quais foram os conflitos de interesse? Qual foi o nível de barulho, stress e insatisfação das pessoas? Ter mais pessoas ajudou a fazer com que a decisão fosse mais rápida ou mais demorada? Talvez esse não seja o melhor exemplo do mundo mas vai ser bem fácil de perceber como times grandes se organizam com muito mais dificuldade.

Boas práticas de engenharia e desenvolvimento ágil como automatização, testes, refatoração, programação em par, integração contínua e TDD são fundamentais, imprescindíveis, inevitáveis, totalmente obrigatórias.

Todos os grandes saltos de qualidade e produtividade que demos na história da evolução da Globo.com foram porque essas práticas foram intensificadas e usadas com mais disciplina, e todas as vezes que elas não recebem a devida importância a velocidade diminui, a produtividade baixa e o time entrega menos (e com mais defeitos).

Um dos “problemas” com o Scrum é que ele não fala nada sobre usar essas práticas. Isso é proposital porque o intuito era que ele fosse bastante genérico e simples, mas como muitas pessoas gostam de seguir o livro cegamente sem pensar, elas acabam achando que não é necessário fazer o que não está escrito, e daí a probabilidade de fracasso é gigantesca. Você pode usar Scrum para produzir um marca-passo, por exemplo, mas você seria louco de não testá-lo exaustivamente só porque não está escrito? Você tem que fazer, porque é uma necessidade imposta pelo tipo de projeto. Com software não é muito diferente: se você não faz TDD, seu código fica pouco testável, e consequentemente você refatora menos ou tem dificuldade para fazê-lo. Consequentemente o tempo para implementar novas funcionalidades aumenta cada vez mais e como o cliente está sempre cobrando mais e mais coisas, você passa a testar menos para dar tempo de fazer mais funcionalidades. E por aí vai (para o buraco).

As regras são excelentes quando você não sabe o que está fazendo. Depois que aprender, quebre-as.

Geralmente quando as pessoas começam com Agile o que se recomenda é que você siga as regras à risca por algumas iterações até que você aprenda e que o processo esteja “no sangue”, e só depois que possíveis customizações devem ser feitas. Muita gente confunde isso com “sempre siga as regras à risca”. Por exemplo, hoje alguém me convenceu numa conversa que o Sprint Planning 2 do jeito que um determinado time estava fazendo estava bem inútil, uma grande perda de tempo. A sugestão foi fazer uma coisa mais “just-in-time”, ou seja, na hora que a história começar a ser desenvolvida. Muita gente pode falar que “ah, mas não é assim que o Scrum funciona” ou o clássico “aqui na empresa nós não fazemos desse jeito”. Se você tem um bom motivo para mudar as regras do jogo, discuta o assunto com o time e implemente as melhorias. Não existe essa coisa de “as regras do Scrum”, existem times produtivos com alta capacidade de adaptação e em constante evolução ou times que passam 50% do tempo discutindo o processo e não deixam o cliente feliz.

Trabalhar num ambiente ágil é muito muito muito mais divertido.

Acabei de passar quase 40 dias de férias e em conferências. Muita gente estaria odiando voltar para o trabalho depois disso, mas eu gostei. Quando eu cheguei hoje na empresa depois de mais de 1 mês a minha mesa já não era mais minha e eu não achava meu computador. O escritório mudou totalmente e o time que eu estava está todo misturado. Quando eu entrei na sala as pessoas estavam em pé discutindo, rabiscando no quadro e o barulho estava alto pra caramba. Depois de contar as novidades, de almoçar e de alguns updates, passei o resto da tarde programando em par numa tarefa que nem eu e nem o meu par faziamos idéia de como resolver, mas juntos descobrimos como fazer e resolvemos o problema. Foi um dia caótico porém muito produtivo e muito divertido, como a maioria dos que eu tenho. Tudo muda muito e está em constante evolução, e cada dia é um novo desafio. Se você gosta de ficar escondido atrás da “baia” e tem dificuldades em dividir o seu teclado com um amigo, recomendo fortemente que você não use Agile.

Agile não é o Santo Graal.

Nenhum processo de desenvolvimento (ágil ou não) é perfeito. Muita gente gosta, muita gente não gosta, alguns não se adaptam, outros se motivam a cada dia com os novos desafios e é assim que as coisas funcionam. <ironia> “Agile é tão perfeito” </ironia> que quando as coisas dão errado é muito mais fácil culpar o seu processo e reclamar que ele não funciona. Bullshit! Como o Jeff Patton fala, as pessoas fazem isso porque o processo não vai se defender de você e porque é muito mais dificil assumir e enxergar os problemas de verdade. Uma das chaves de ser bem sucedido nesses processos é entender que eles são apenas ferramentas muito simples e que se não estão funcionando é porque você precisa encontrar e resolver algum problema da sua empresa, do seu time, das pessoas ou do que quer que seja. Não bote a culpa no processo.

As pessoas são mais importantes que o processo. Foco nas pessoas.

São elas que fazem tudo acontecer. Quanto mais agentes de mudança sua empresa puder ter, melhor. A empresa tem que reconhecer essas pessoas e motivá-las para que elas motivem ainda mais seus pares e assim por diante. É preciso dar liberdade para elas criarem, tentarem coisas novas e errarem sem medo de serem repreendidas. Faça de tudo para que todos estejam felizes e motivados. Resolva os conflitos. Coloque tudo em pratos limpos. Trate todos com respeito e como amigos. Faça as pessoas crescerem e deixe (e ajude) que elas tenham visibilidade dentro da empresa. De todas as coisas que eu vi até hoje, nada é mais eficaz do que ter as pessoas certas do seu lado.

Nada disso é definitivo e eu posso mudar de opinião a qualquer momento sobre qualquer uma dessas coisas. Aliás, hoje numa conversa aprendi que é ótimo mudar de opinião, porque significa que você aprendeu alguma coisa nova/diferente que te fez pensar de uma forma nova/diferente e, portanto, você evoluiu. Fica então a última:

Crie sua opinião, aprenda mais e mude sua opinião. Esteja em constante evolução.

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Simplicidade

Há mais ou menos um mês terminei de ler o livro Presentation Zen do Garr Reynolds. O livro é muito legal e tem excelentes dicas sobre como fazer apresentações baseadas nos princípios Zen. O Garr trabalhou durante muito tempo na Apple fazendo design de apresentações e é fato que a Apple arrebenta nesse quesito. Depois de assistir apresentações que foram verdadeiros shows na Apple WWDC decidí ler o livro e tentar aprender alguma coisa sobre o que eles fazem.

Quando eu estava lendo o livro, um trecho de um capítulo que fala sobre os princípios de design acendeu uma lâmpada na minha cabeça e me fez atentar para uma coisa que acontece diariamente no desenvolvimento de software:

“Design can make things easier for the viewer or the user. Design is not decoration. If anything, design is more about subtraction than addition. Visually, we do not want to include too much, nor do we want to exclude too much. Generally, people err on the side of including too much visual information, which often results in clutter and confusion.

É verdade. Existe uma tendência grande das pessoas acharem que mais funcionalidades e complexidade é sempre melhor. As pessoas pensam exatamente como descreve o livro Getting Real da 37 Signals:

“Conventional wisdom says that to beat your competitors you need to one-up them. If they have four features, you need five (or 15, or 25). If they’re spending x, you need to spend xx. If they have 20, you need 30.

This sort of one-upping Cold War mentality is a dead-end. It’s an expensive, defensive, and paranoid way of building products. Defensive, paranoid companies can’t think ahead, they can only think behind. They don’t lead, they follow.

Transportando para o mundo do desenvolvimento de software, eu vejo que muitos desenvolvedores adoram entulhar seus códigos com todos os design patterns que já ouviram falar, adoram usar EJBs em qualquer coisa, adoram inventar seus frameworks malucos… Enfim, adoram fazer tudo que é complexo e trabalhoso. Assim como no design, entulhar o código com essas coisas só fazem ele ficar muito mais difícil de ser mantido e entendido!

Talvez um dos motivos disso acontecer seja que nem sempre o desenvolvedor tem senso de urgência e visão do negócio. Nem sempre ele entende que não dá para perder 3 dias fazendo um menu JavaScript que abre e fecha, ou passar 80% do tempo tentando encaixar design patterns no código, ou criar uma arquitetura com 36 camadas para diminuir o acoplamento. Essas coisas podem ser extremamente prejudiciais para o projeto, porque o cliente está esperando triplicar o faturamento e o número de visitantes do seu site e essas coisas não vão ajudar em absolutamente nada. A oportunidade de usar design patterns, criar camadas no software ou qualquer outra coisa surgirá naturalmente no decorrer do projeto. Se isso não acontecer, então simplesmente não os use.

Uma dica para descobrir se você ou alguém está fazendo uma coisa útil ou não é tentar responder a seguinte pergunta: “Qual problema será resolvido com isso?”. Ultimamente tenho feito essa pergunta para todo mundo e percebí que muito mais da metade das coisas não são justificáveis. É incrível como as pessoas criam coisas sem nenhum motivo, que só deixam o software mais complexo sem necessidade, tanto internamente (código) quanto externamente (interface).

Por isso eu gosto e recomendo trabalhar sempre com uma das regras básicas do XP. Independente de usar XP ou não, a simplicidade é uma ótima regra:

“A simple design always takes less time to finish than a complex one. So always do the simplest thing that could possibly work. If you find something that is complex replace it with something simple. It’s always faster and cheaper to replace complex code now, before you waste a lot more time on it. Keep things as simple as possible as long as possible by never adding functionality before it is scheduled. Beware though, keeping a design simple is hard work.”

Se você é desenvolvedor e adora complicar tudo, pare de brincar de professor pardal e pense simples, ou é isso que vai acontecer com a sua empresa:

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Engenharia de software Eventos

[QCon 2007] Cameron Purdy: The Top 10 Ways to Botch Enterprise Java Application Scalability and Reliability

QCon 2007 - Cameron Purdy: The Top 10 Ways to Botch Enterprise Java Application Scalability and ReliabilityCameron Purdy fez uma apresentação sobre as 10 melhores maneiras de estragar (isso mesmo) a arquitetura das suas aplicações Java! Foi surpreendente porque eu fui pra essa apresentação sem expectativa nenhuma mas ela foi ótima e muito engraçada!

A apresentação foi num estilo meio cômico e a cada slide várias pessoas foram se identificando com várias decisões de arquitetura patéticas que a gente vê por aí (eu inclusive já fiz e ví várias delas!).

Algum dos exemplos que ele deu que podem acabar com a escalabilidade e a confiabilidade de uma aplicação foram:

  • Estuprar o banco de dados: utilizar os recursos de banco para fazer coisas sem tanta importância como logar operações, guardar estado (session) ou guardar imagens.
  • Introduzir gargalos: qualquer coisa que milhares de requests têm que utilizar e que têm latência associada a carga.
  • Usar heaps gigantes na JVM: um FullGC de 10GB pode levar 3 segundos em laboratório mas em produção isso pode levar vários minutos travando completamente a aplicação.

E por aí vai…. Veja a apresentação completa (os slides estão bem legais por sinal).

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