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2 anos de Scrum e Agile na Globo.com e algumas coisas que eu aprendi

Já se passaram pouco mais de 2 anos desde que começamos a trabalhar oficialmente com Scrum e Agile na Globo.com e um pouco mais de 2 anos e meio desde que a coisa toda começou de fato.

Depois de trabalhar diariamente com processos ágeis e uma porção de times diferentes na Globo.com, minha sensação é a daquele dito popular que diz que quanto mais você sabe de alguma coisa, mais você descobre que tem que aprender. De tempos em tempos surgem idéias novas excelentes e as vezes são coisas tão simples que eu me pergunto porque nunca tinha pensado nelas. Ou então algumas idéias que não deram certo no passado voltam à tona, são colocadas em prática e passam a funcionar muito bem. Sempre que eu acho que já aprendi como alguma coisa funciona alguém aparece com uma idéia melhor e me prova que eu estava errado em achar isso.

Me lembro quando perguntei lá no início para o Boris Gloger sobre o tempo que levaria para as coisas acontecerem. Na época ele falou que para uma empresa do tamanho da Globo.com certamente levaria de 2 a 4 anos para as coisas mudarem de fato. Eu achei um exagero e que ele estava louco, mas era eu que não tinha noção do tamanho da coisa toda. Ele estava certo.

Infelizmente eu não tenho uma história romântica para contar e estaria mentindo se dissesse que as coisas são maravilhosas depois que você adota Agile, Scrum ou o que quer que seja. Muito pelo contrário, os problemas começam a aparecer e tudo fica caótico. As vezes a quantidade de problemas chega a ser enlouquecedora e minha insônia aumentou consideravelmente depois disso. Mas eu não tenho nenhuma dúvida de que os processos ágeis são os que mais se adaptam às características de projetos de desenvolvimento de software, mais do que qualquer outra coisa que eu já tenha usado. Tivemos muito mais sucesso do que em qualquer outra iniciativa na história da empresa e as coisas acontecem muito mais e muito melhor do que aconteciam antes, mas mesmo assim ainda temos um caminho muito longo pela frente.

Hoje eu consigo entender com mais clareza o real sentido do empirismo que tanto se fala. Mesmo com pilhas de livros sobre desenvolvimento ágil na minha prateleira, eu olho para trás e vejo que o processo de “tentativa e erro” foi muito mais importante para o meu aprendizado do que qualquer teoria. Várias coisas escritas nos livros deram certo para alguns times e não deram para outros, e no fim das contas o que ficou foi uma mistura de todas essa experiências. Fomos fazendo as coisas, vendo o que dava certo ou errado, mudando, adaptando e seguindo em frente. Hoje não dá pra dizer que a Globo.com usa Scrum, XP, Lean ou Kanban. Você pode encontrar todos os seus sabores preferidos de Agile por aqui, às vezes misturados e até mesmo bem customizados e diferentes do tradicional.

Nesse tempo todo vivenciei muitos problemas, muitos sucessos, muitas derrotas, muitas falhas e muita mudança. Eu queria poder dizer que encontrei o Santo Graal do desenvolvimento ágil, mas dificilmente isso existe. E se existir, provavelmente o da minha empresa será diferente da sua e por ai vai. Porém, eu posso falar de algumas coisas que eu aprendi e que talvez possam ser úteis para outras pessoas e empresas:

Você sempre estará em transição.

Basicamente eu não acredito mais em transição ágil como eu já li por ai, que parece uma coisa que tem inicio, meio e fim. Hoje eu percebo que sempre se está em transição. Sempre surgirão projetos novos com características diferentes e sempre será necessário ajustar e se adaptar. Isso tudo fora que as pessoas e os times também mudam, e ai começa tudo denovo. É um trabalho que nunca acaba.

É muito fácil começar a fazer Scrum, o difícil é vencer a resistência das pessoas.

Grande parte do meu tempo nesses anos foi investido em quebrar barreiras e a resistência das pessoas. E não estou falando de diretores ou gerentes, às vezes os piores problemas estão dentro dos times. Os mais diversos tipos de problemas acontecem: tem gente que tem medo de trabalhar em par e expôr suas fraquezas para os outros, tem gente insatisfeita na empresa que envenena iniciativas, enfim, acontece de tudo. É muito importante trabalhar com pessoas bem intencionadas, comprometidas e que acreditam no que estão fazendo e que acreditam que as coisas sempre podem (e devem) ser melhoradas.

As pessoas precisam estar felizes.

É importantíssimo que a empresa reconheça seus talentos, que eles ganhem o que merecem e que eles trabalhem num ambiente agradável. Ninguém trabalha direito e dá 100% do seu potencial se não estiver feliz e satisfeito com a empresa. Pessoas infelizes e insatisfeitas podem acabar com um time inteiro, por isso a empresa tem que dar o primeiro passo e dar todas as condições para que isso não aconteça e, quando acontecer, resolver o problema o mais rápido possível.

Se o foco das pessoas for em “fazer telas”, “testar” ou “escrever software”, você está perdido. O foco das pessoas deve ser o produto, e não a sua função.

Muito desenvolvedor não gosta de fazer teste exploratório “porque isso é função do cara de QA”. Muito designer não gosta de fazer CSS e HTML porque isso é coisa de “desenvolvedor de front-end”. Bullshit! Imagine se um zagueiro está com a bola na linha do gol e diz que não vai fazer o gol porque não é atacante? Não tem essa, o foco é ganhar o jogo, entregar o produto, deixar o cliente feliz, não importa fazendo o que. Com o tempo você descobre a receita do time (quantidade de pessoas de cada especialidade) para que as pessoas passem a maior parte do tempo fazendo sua especialidade, mas isso não significa que elas não devem fazer ou entender de outras coisas.

Escalar não é facil. Aliás, se for possível, não escale nunca.

Times ágeis funcionam melhor quando são pequenos, porque o universo de pessoas é menor e a comunicação é melhor, as pessoas confiam mais no resto do time e por aí vai. Quando o número de pessoas e de times aumenta, a comunicação fica problemática e isso gera uma porção de problemas, desde coisas triviais como conflitos de merge até coisas mais complexas de resolver como falta de confiança, dificuldade em mudar de direção, dificuldade de passar a visão do produto, pessoas querendo aparecer mais do que outras e por aí vai. Faça um teste: reuna 30 amigos seus e tentem combinar um lugar para almoçar em no máximo 2 minutos. Repita o teste com 3 amigos e compare os resultados. Foi possível combinar um único lugar de forma unânime? Quanto tempo levou? Quais foram os conflitos de interesse? Qual foi o nível de barulho, stress e insatisfação das pessoas? Ter mais pessoas ajudou a fazer com que a decisão fosse mais rápida ou mais demorada? Talvez esse não seja o melhor exemplo do mundo mas vai ser bem fácil de perceber como times grandes se organizam com muito mais dificuldade.

Boas práticas de engenharia e desenvolvimento ágil como automatização, testes, refatoração, programação em par, integração contínua e TDD são fundamentais, imprescindíveis, inevitáveis, totalmente obrigatórias.

Todos os grandes saltos de qualidade e produtividade que demos na história da evolução da Globo.com foram porque essas práticas foram intensificadas e usadas com mais disciplina, e todas as vezes que elas não recebem a devida importância a velocidade diminui, a produtividade baixa e o time entrega menos (e com mais defeitos).

Um dos “problemas” com o Scrum é que ele não fala nada sobre usar essas práticas. Isso é proposital porque o intuito era que ele fosse bastante genérico e simples, mas como muitas pessoas gostam de seguir o livro cegamente sem pensar, elas acabam achando que não é necessário fazer o que não está escrito, e daí a probabilidade de fracasso é gigantesca. Você pode usar Scrum para produzir um marca-passo, por exemplo, mas você seria louco de não testá-lo exaustivamente só porque não está escrito? Você tem que fazer, porque é uma necessidade imposta pelo tipo de projeto. Com software não é muito diferente: se você não faz TDD, seu código fica pouco testável, e consequentemente você refatora menos ou tem dificuldade para fazê-lo. Consequentemente o tempo para implementar novas funcionalidades aumenta cada vez mais e como o cliente está sempre cobrando mais e mais coisas, você passa a testar menos para dar tempo de fazer mais funcionalidades. E por aí vai (para o buraco).

As regras são excelentes quando você não sabe o que está fazendo. Depois que aprender, quebre-as.

Geralmente quando as pessoas começam com Agile o que se recomenda é que você siga as regras à risca por algumas iterações até que você aprenda e que o processo esteja “no sangue”, e só depois que possíveis customizações devem ser feitas. Muita gente confunde isso com “sempre siga as regras à risca”. Por exemplo, hoje alguém me convenceu numa conversa que o Sprint Planning 2 do jeito que um determinado time estava fazendo estava bem inútil, uma grande perda de tempo. A sugestão foi fazer uma coisa mais “just-in-time”, ou seja, na hora que a história começar a ser desenvolvida. Muita gente pode falar que “ah, mas não é assim que o Scrum funciona” ou o clássico “aqui na empresa nós não fazemos desse jeito”. Se você tem um bom motivo para mudar as regras do jogo, discuta o assunto com o time e implemente as melhorias. Não existe essa coisa de “as regras do Scrum”, existem times produtivos com alta capacidade de adaptação e em constante evolução ou times que passam 50% do tempo discutindo o processo e não deixam o cliente feliz.

Trabalhar num ambiente ágil é muito muito muito mais divertido.

Acabei de passar quase 40 dias de férias e em conferências. Muita gente estaria odiando voltar para o trabalho depois disso, mas eu gostei. Quando eu cheguei hoje na empresa depois de mais de 1 mês a minha mesa já não era mais minha e eu não achava meu computador. O escritório mudou totalmente e o time que eu estava está todo misturado. Quando eu entrei na sala as pessoas estavam em pé discutindo, rabiscando no quadro e o barulho estava alto pra caramba. Depois de contar as novidades, de almoçar e de alguns updates, passei o resto da tarde programando em par numa tarefa que nem eu e nem o meu par faziamos idéia de como resolver, mas juntos descobrimos como fazer e resolvemos o problema. Foi um dia caótico porém muito produtivo e muito divertido, como a maioria dos que eu tenho. Tudo muda muito e está em constante evolução, e cada dia é um novo desafio. Se você gosta de ficar escondido atrás da “baia” e tem dificuldades em dividir o seu teclado com um amigo, recomendo fortemente que você não use Agile.

Agile não é o Santo Graal.

Nenhum processo de desenvolvimento (ágil ou não) é perfeito. Muita gente gosta, muita gente não gosta, alguns não se adaptam, outros se motivam a cada dia com os novos desafios e é assim que as coisas funcionam. <ironia> “Agile é tão perfeito” </ironia> que quando as coisas dão errado é muito mais fácil culpar o seu processo e reclamar que ele não funciona. Bullshit! Como o Jeff Patton fala, as pessoas fazem isso porque o processo não vai se defender de você e porque é muito mais dificil assumir e enxergar os problemas de verdade. Uma das chaves de ser bem sucedido nesses processos é entender que eles são apenas ferramentas muito simples e que se não estão funcionando é porque você precisa encontrar e resolver algum problema da sua empresa, do seu time, das pessoas ou do que quer que seja. Não bote a culpa no processo.

As pessoas são mais importantes que o processo. Foco nas pessoas.

São elas que fazem tudo acontecer. Quanto mais agentes de mudança sua empresa puder ter, melhor. A empresa tem que reconhecer essas pessoas e motivá-las para que elas motivem ainda mais seus pares e assim por diante. É preciso dar liberdade para elas criarem, tentarem coisas novas e errarem sem medo de serem repreendidas. Faça de tudo para que todos estejam felizes e motivados. Resolva os conflitos. Coloque tudo em pratos limpos. Trate todos com respeito e como amigos. Faça as pessoas crescerem e deixe (e ajude) que elas tenham visibilidade dentro da empresa. De todas as coisas que eu vi até hoje, nada é mais eficaz do que ter as pessoas certas do seu lado.

Nada disso é definitivo e eu posso mudar de opinião a qualquer momento sobre qualquer uma dessas coisas. Aliás, hoje numa conversa aprendi que é ótimo mudar de opinião, porque significa que você aprendeu alguma coisa nova/diferente que te fez pensar de uma forma nova/diferente e, portanto, você evoluiu. Fica então a última:

Crie sua opinião, aprenda mais e mude sua opinião. Esteja em constante evolução.

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Agile Scrum XP

Como estamos indo com a adoção de Scrum na Globo.com

Muita gente têm me perguntado como estamos indo atualmente com a adoção do Scrum na Globo.com. Acho que já é hora de falar alguma coisa sobre isso. Esse não é um case oficial assinado pela Globo.com, são apenas alguns relatos do meu ponto de vista sobre o assunto.

Nossa história no início foi bem parecida com as histórias tradicionais. Sabe aquelas empresas que gastam uma semi-fortuna com uma consultoria para desenhar um processo de desenvolvimento de software? Assim estávamos nós no início de 2007. Poucos projetos eram entregues nas datas acordadas e muitos deles falhavam ou não satisfaziam as necessidades dos clientes. Contratar uma grande consultoria de software parecia ser uma boa tentativa de arrumar as coisas, mas o resultado do trabalho foi um documento que descrevia um processo com algumas centenas de páginas que devia ser seguido á risca, isso sem contar as dúzias de documentos padrão para todos os tipos de requisição e comunicação que se possa imaginar. Dezenas de páginas descreviam quem deveria falar com quem e quem entrega qual documento em qual momento. O processo foi feito para lidar com todas as complexidades, burocracias e exigências que nós mesmos criamos dentro da empresa.

Resumindo a história, isso não funcionou na Globo.com e acho que existem poucas chances de algo tão complexo assim funcionar em algum lugar. E por incrível que pareça, no fim das contas ninguém havia pensado em nada para resolver o problema principal: como entregar o software que nossos clientes querem no menor tempo e com a maior qualidade possível?

Um pouco de história

Ao contrário do que acontece em muitas empresas, as metodologias ágeis na Globo.com vieram de baixo para cima. Tudo começou com um movimento tímido entre alguns desenvolvedores de aplicar práticas de desenvolvimento ágil do XP (Extreme Programming) nos projetos. A porta de entrada foi a oportunidade de melhorar a qualidade dos nossos sistemas, pois tinhamos uma incidência muito grande de bugs em produção e poucas aplicações eram testadas adequadamente.

Alguns desenvolvedores mais experientes começaram a desenvolver usando desenvolvimento guiado por testes (TDD), e com isso houve uma melhora nítida na qualidade do que era entregue. Aos poucos, enquanto isso acontecia, algumas seções de programação em par aconteciam de vez em quando para difundir o conhecimento e ensinar a técnica a outros programadores, mas ainda de forma muito tímida e sutil (afinal às vezes é difícil convencer que dois programadores fazendo apenas um código é uma coisa boa).

Em seguida foi a vez de organizar as demandas de clientes e os ciclos de desenvolvimento. Lembro-me de ter colocado nessa época o mesmo software em produção quatro vezes em duas semanas, e depois disso o mesmo software foi trabalhado durante dois meses para só depois poder ir novamente para produção. Para piorar, nossos clientes nos traziam todo tipo de demanda que se pode imaginar, sempre em lotes e com prioridade máxima. Por exemplo, acontecia frequentemente do mesmo cliente demandar cinco coisas e todas elas com máxima urgência. Resumindo, os ciclos de planejamento, desenvolvimento e entrega eram totalmente irregulares e afetavam o desempenho de toda a equipe. Explicando todas as dificuldades que tinhamos para nos organizar nesse caos, conseguimos acordar que fariamos entregas constantemente de duas em duas semanas, e que dentro desse período não haveria nenhuma mudança no planejamento, que seria feito no início de cada período. Antes de iniciar cada ciclo de desenvolvimento, os clientes tinham a oportunidade de escolher quais seriam as prioridades da equipe de desenvolvimento nas duas semanas seguintes. Sem perceber eles haviam aceitado a idéia de desenvolvimento iterativo e jogo do planejamento, e nós teriamos alguma organização e paz para fazer o trabalho.

Em meados de Julho de 2007 a empresa decidiu bancar um curso de Scrum com o Boris Gloger para alguns membros da nossa equipe e o resultado foi ótimo! Na semana seguinte mesmo já começou a mudança. Todos voltaram com um novo gás e dispostos a mudar a empresa. Me lembro de nessa época alguém ter falado a seguinte frase: “Agora eu acredito em desenvolvimento de software”.

Desse momento em diante passamos a aplicar Scrum no nosso time de desenvolvimento. O problema é que estávamos no meio de um projeto feito da forma “tradicional” (leia-se waterfall) e toda a fase de análise e especificação já tinha sido concluída. Tudo indicava que seria melhor esperar uma oportunidade melhor para começarmos a adoção, só que nós sabiamos que tinha que ser “naquela hora ou nunca” e então começamos a desenvolver nosso principal projeto usando práticas do Scrum.

Quase ninguém na equipe havia trabalhado com desenvolvimento ágil, então achamos que seria mais fácil não falar de Scrum, XP ou qualquer nome diferente. Simplesmente começamos a praticar e durante o desenvolvimento o time foi introduzido às práticas e à forma de trabalhar. As regras são muito simples e por isso foi muita fácil de adotá-las. Ao longo dos cinco Sprints o time foi amadurecendo, entendendo como trabalhar e também foram nascendo algumas adaptações necessárias ao funcionamento do projeto dentro da estrutura da empresa. Por exemplo, tivemos que resolver como seriam criadas as histórias e como isso seria integrado com o nosso sistema de tracking, como integrar com a equipe de QA, como colocar os projetos em produção e diversas outras questões. O Phillip falou bastante sobre essa fase introdutória no seu blog no ano passado.

Hoje, o Globo Vídeos 4.2, que é o tal projeto, está em produção. Para os padrões da empresa na época, ele foi um projeto surpreendente do ponto de vista de qualidade. Na versão anterior do Globo Vídeos (4.0) foi necessária uma janela de mais de 24 horas para colocá-lo no ar e ela aconteceu aos trancos e barrancos. Além disso a semana seguinte foi infernal, com muitos bugs para serem corrigidos e várias mudanças arriscadas durante o dia para corrigi-los. Já a versão 4.2 foi colocada em produção em pouco mais de uma hora e na primeira semana nem ouviamos falar do Globo Vídeos. Nem parecia que um dos sites de maior audiência da empresa havia sido quase totalmente substituído por um totalmente novo e com grandes mudanças arquiteturais!

Ao mesmo tempo que acontecia o Globo Vìdeos, o site de inscrições para o Big Brother Brasil 8 foi desenvolvido de cabo a rabo usando Scrum, da forma estrita, como está nos livros. O projeto simplesmente não teria sido feito considerando-se a complexidade e o tempo disponíveis. No final, ele foi um sucesso e além de ter sido entregue no prazo houve uma percepção de muita qualidade por todos – mais uma prova viva de que o Scrum era uma possível resposta para os nossos problemas. O Danilo inclusive fez uma apresentação sobre esse projeto na semana passada num evento do C.E.S.A.R. em Recife.

Esses dois projetos serviram de aprendizado e base para a estruturação de todos os projetos seguintes na empresa. O sucesso deles foi o grande responsável para ganharmos carta branca e começarmos a implementação de Scrum em massa na Globo.com.

Como estamos hoje

Após um ano de metodologias ágeis a empresa já está bem mais madura nas práticas e já temos mais de 10 times usando Scrum.

No fim do ano passado, após um treinamento para pessoas de todas as áreas da empresa, começamos todos a usar Scrum da forma estrita (obviamente houve uma curva de aprendizado até todos estarem mais seguros e praticando melhor). Hoje, alguns meses depois, já é possível perceber diferenças entre alguns times, que acabaram se adaptando de forma diferente por terem problemas e questões diferentes.

Sobre a duração dos Sprints, estamos trabalhando com duas semanas porque achamos que quatro semanas é muito tempo e poderiamos acabar nos tornando lentos na resposta às mudanças. Além do mais já vinhamos usando iterações de duas semanas desde que começamos a adotar desenvolvimento iterativo e continuar com este tamanho de ciclo seria mais fácil para nós.

Em virtude disso, como temos a metade do tempo de desenvolvimento recomendado pelo Scrum, decidimos que só precisamos da metade do tempo de planejamento. A recomendação é que o Sprint Planning tenha 8 horas para um Sprint de 4 semanas, e como nosso Sprint é de 2 semanas decidimos fazer um planning de 4 horas. As outras reuniões (Sprint Review, Retrospective, Daily Scrum, etc) permaneceram com a mesma duração, lembrando que essa duração não é obrigatória mas sim um limite para não ficarmos discutindo as coisas indefinidamente.

Nossos Sprint Plannings têm melhorado constantemente. No início sempre estouravamos o tempo da reunião discutindo um monte de coisas que não eram necessárias mas agora já estamos mais focados e a reunião tem funcionado bem melhor. As estimativas com planning poker também evoluiram um bocado e em várias ocasiões todos os desenvolvedores colocam o mesmo número sem combinar, o que indica que estamos evoluindo na sensação de esforço necessário para desenvolver as coisas.

A equipe, que antes era só de desenvolvedores, agora tem também um designer, um arquiteto de informação, um especialista em programação client-side (JavaScript/CSS/HTML), uma pessoa da equipe de testes e homologação e uma pessoa focada em negócios e ROI (que é o Product Owner). Todas essas pessoas sentam próximas umas das outras, e isso efetivamente aumentou muito a produtividade delas e o ritmo do projeto. Aos poucos todo o conhecimento específico está sendo difundido entre os membros da equipe. Infelizmente nem todas as equipes estão completas dessa forma por diferentes motivos (espaço físico, distância entre os prédios da empresa, etc), mas estamos trabalhando duro para resolver isso. Inclusive temos uma reunião chamada de Scrum Of Scrums, onde todos os Scrum Masters se reunem para se ajudarem a resolver esses tipos de problemas, que muitas vezes são comuns a várias equipes.

Já que o Scrum não fala nada sobre práticas de desenvolvimento de software, acabamos adotando muitas práticas do XP. Isso fica por conta de cada equipe e cada uma faz o que julga mais adequado para entregar o melhor software possível, mas muitas equipes usam desenvolvimento guiado por testes, integração contínua, programação em par, metáforas e várias outras práticas de Extreme Programming com muito sucesso. De fato a integração entre Scrum e XP funciona muito bem.

Definimos o nosso conceito de “done” (finalizado), que é a parte mais divergente entre as equipes. Na equipe de desenvolvimento de vídeos (minha equipe), uma história ou funcionalidade está pronta quando foi desenvolvida (incluindo testes unitários), integrada à base de código, testada novamente (fazemos testes de aceitação com critérios definidos no Sprint Planning ao criar as histórias) e homologada. Como nosso time tem uma pessoa da área de QA, podemos incluir a homologação da aplicação dentro do Sprint (nem todos os times fazem dessa forma).

Temos na empresa uma equipe que é especializada no ambiente de produção e por isso colocar os sistemas no ar fica fora do nosso Sprint. Quando nosso Sprint termina, entregamos um pacote fechado, testado, homologado e pronto para ser colocado em funcionamento, e então agendamos uma data e hora para que a subida seja feita acompanhada por um ou mais desenvolvedores do time. Todas as alterações de arquitetura e ambiente de deployment, quando necessárias, são feitas dentro do Sprint, somente as mudanças que envolvem risco de indisponibilidade nos sistemas que são feitas numa data que agendamos após o termino do Sprint, geralmente no meio da madrugada (as famosas “janelas”). Alguns times, por terem menos criticidade no seu ambiente de deployment, consideram que um Sprint está concluído quando o software está no ar, e o seu último dia do Sprint sempre é uma subida para produção. Como já havia falado anteriormente, cada time se adaptou para funcionar da melhor forma possível de acordo com suas peculiaridades.

E por último, nossas retrospectivas têm sido uma base forte para adaptações no processo e na forma de trabalhar. Para mim foi um aprendizado enorme quando o Boris Gloger veio na Globo.com e acompanhou uma retrospectiva inteira do nosso time – ele deu excelentes toques importantissimos. A última retrospectiva em especial, que aconteceu após uma grande entrega de um projeto interno, mostrou nitidamente a evolução do time e como estamos efetivamente conseguindo aos poucos achar e resolver todos os problemas. Estamos evoluindo devagar mas constantemente e já temos várias equipes com um bom nível de maturidade e evolução na empresa.

Concluindo…

Não só o Scrum como todos as metodologias ágeis dependem muito das pessoas. Na Globo.com não foi diferente e as pessoas certas fizeram toda a diferença. Também existe o outro lado da moeda: algumas pessoas simplesmente não se adaptam a essa forma de trabalhar. Desde o início da adoção nós já perdemos muitos desenvolvedores e acredito que ainda perderemos muito mais. Por conta disso nossos processos seletivos se tornaram mais exigentes e demorados, porque agora não só precisamos de pessoas que sejam ótimas tecnicamente mas também que tenham um perfil adequado para trabalhar no tipo de ambiente que criamos dentro da empresa.

Além disso é essencial que haja apoio da gerência e “carta branca” para que as equipes de desenvolvimento tenham a autonomia necessária para levar o projeto da forma correta. Como estes “processos” são muito diferentes dos tradicionais, algumas empresas acabam fazendo modificações antes do tempo por puro medo ou falta de conhecimento, que acabam atrapalhando ou até mesmo arruinando a adoção de uma metodologia ágil. Ainda em relação aos times de desenvolvimento, é essencial que os líderes de equipe (ou Scrum Masters no caso do Scrum) sejam muito bem capacitados e que conheçam profundamente as práticas/regras/princípios, não só para que tenham capacidade de argumentação com a empresa mas também para que não façam adaptações que violem os princípios básicos das metodologias ágeis.

Por fim, acho que ainda estamos muito longe do ideal e vejo muitas oportunidades de melhoria na nossa forma de trabalhar, mas o mais importante é que agora acreditamos que estamos no caminho certo.

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Scrum checklists

Sei que isso já é um pouco antigo, porém, antes tarde do que nunca! 🙂

Para quem está começando a praticar o Scrum, às vezes é um pouco complicado lembrar de todas as regras (apesar de serem poucas). Entretanto, é altamente recomendável seguir todas essas regras à risca, especialmente no início da adoção quando ainda não se tem muita experiência/conhecimento sobre o framework.

Por estes motivos as checklists são muito úteis! O objetivo delas é que você possa ter um micro guia de referência, para andar debaixo do braço e te ajudar a seguir e lembrar das regras.

Recomendo duas:

1) Checklist do Boris Gloger/SPRiNT-iT: essa foi a primeira que eu conhecí e a que mais usei. Quando fiz o curso de Scrum Master, o Boris deu uma versão impressa para os alunos, que é de excelente qualidade (tanto no conteúdo como no material). Ela é feita em papel duro e tem um espaço para anotações ao lado das páginas. Se você imprimir este PDF numa gráfica, deve ficar show de bola!

2) Checklist do Henrik Kniberg/Crisp: essa checklist é muito mais resumida, mas também tem várias informações legais. Neste caso não é um livreto, mas um mind map com vários tópicos importantes para se lembrar.

Combinando essas duas checklists você terá um excelente guia de bolso!

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Scrum Trainers Training

Boris GlogerHoje foi o dia de dar mais um passo importante na direção do Scrum. Assistí ao treinamento para treinadores do Boris Gloger entitulado “Teaching Scrum: Train the Trainer”.

Eu sei que já falei isso algumas vezes aqui e que todos estão carecas de saber, mas mesmo assim tenho que repetir: o Boris é sensacional! Se todos os outros encontros com ele já tinham sido excelentes, “sensacional” é a palavra mais adequada para descrever o encontro e os ensinamentos de hoje.

Esse treinamento que fizemos serve para habilitar os Scrum Masters a se tornarem Scrum Trainers, ou seja, treinadores capacitados a passar a mensagem do Scrum para outras pessoas. Na verdade não é um treinamento de apenas um dia que cria um trainer, o caminho é muito mais longo que isso. Segundo o Boris, quem pretende seguir como um trainer tem que escrever artigos, ser reconhecido na comunidade e depois escolher um mentor, para acompanhá-lo por vários treinamentos, até que esteja realmente apto a treinar (e quem julga se você está preparado ou não, é o mentor). Esse curso é apenas o começo da jornada.

Não pretendo me tornar um treinador oficial de Scrum no momento, mas com certeza esse treinamento constroi mais um degrau no meu conhecimento sobre Scrum, e vai me ajudar bastante a elaborar uma forma de transmitir a mensagem para minha equipe, já que nem todos tiveram a oportunidade de fazer o curso do Boris (infelizmente).

Scrum Trainers ClassFoi muito legal entender as “internas” do treinamento e conhecer os segredos do Boris. O treinamento de Scrum Master é totalmente planejado, desde o primeiro minuto em que as pessoas entram na sala, até os horários e os motivos estratégicos para os coffee-breaks, passando pelo planejamento de exercícios e de cada minuto do dia. Tudo tem um motivo, tudo mesmo. Ele nos ensina a usar várias técnicas de psicologia, didática e revela toda sua forma de pensar, seus segredos e suas técnicas para lidar com situações difíceis ou inesperadas.

É tudo tão incrível que o Danilo, por exemplo, está absolutamente convencido que o Boris tem poderes sobrenaturais. Já o Evandro acha que ele é uma espécie de Jedi. Enfim, o fato é que seus vários poderes incluem a leitura da mente, desintegração de matéria, indução de amnésia e por fim, ele é a única pessoa além de Chuck Norris que sabe fazer o Roundhouse Kick. Hahaha, é claro que isso é brincadeira, mas realmente é impressionante como a conjunção das técnicas do Boris faz tudo parecer mágica.

O fim do treinamento foi especial. Quando fizemos a retrospectiva do dia, o Antonio falou emocionado sobre todo o caminho que percorremos até chegar onde estamos. É incrível perceber como um grupo pequeno de pessoas pode mudar a cabeça de uma empresa grande e tradicional como a Globo. Tenho orgulho de fazer parte das cabeças dessa revolução, e fico triste pelo nosso amigo cangurú-calçado, que foi peça fundamental nessa mudança, não estar mais aqui conosco…

Scrum TrainersPara mim o dia de hoje foi muito mais do que um dia de treinamento. Foi uma viagem pela mente e uma mudança de estado de espírito. O Scrum é totalmente sobre pessoas e como lidar com elas. As práticas funcionam porque o processo todo foi pensado nas características humanas e intelectuais que todos nós temos. O Scrum nos ajuda dando ferramentas para nos ajudar a lidarmos com nossas fraquezas e permite que nossas características individuais e criatividade aflorem, fazendo com que a produtividade vá a mil por hora!

Para quem tiver interesse, coloquei fotos do treinamento no meu Flickr.

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Sprint Review e Retrospective com Boris Gloger

Sprint GoalHoje na Globo.com tivemos a ilustre visita do nosso amigo Boris Gloger! O Boris é um dos maiores especialistas do mundo em Scrum e está ajudando a melhorarmos o processo de desenvolvimento de software na Globo.com. Em dezembro do ano passado ele nos deu o treinamento de Scrum Master e agora ele está no Brasil para fazer alguns treinamentos mais especificos, como o de Product Owner (específico para gerentes de produto entenderem seu papel no Scrum) e Trainers Training (para nós Scrum Masters estarmos aptos a treinarmos pessoas e podermos replicar nosso conhecimento).

Aproveitando que o Boris estava aqui pela Barra da Tijuca, o Antonio conseguiu que ele viesse nos visitar aqui na Globo.com!

Equipe do Globo VídeosNa primeira parte da sua visita, o Boris visitou o desenvolvimento das equipes de Portal e Aplicativos, e o Evandro tirou várias fotos e blogou tudo. Como a segunda foto denuncia, acompanhei tudo de perto! Ouvimos várias dicas e sugestões interessantes para melhorarmos nosso processo, além de termos feito vários bate-papos com alguns times. Fiquei sempre por perto para aproveitar o máximo possível (como chicken, obviamente), porque eu sabia que ele viria com uma dúzia de sacadas expertas e conclusões que são tão óbvias que acabam sendo imperceptíveis. E não deu outra.

Em seguida fomos para a base de WebMedia, onde o Boris acompanhou todo o nosso Sprint Review e Sprint Retrospective. Ele nos acompanhou durante três horas e deu várias dicas de como agir e o que fazer em determinadas situações específicas, além de ter tirado algumas dúvidas que sempre nos perturbam no dia-a-dia.

Boris Gloger e Guilherme ChapiewskiDepois, quando tudo acabou, ele disse que a retrospectiva foi muito boa, e mais uma vez deu várias dicas… A mais importante foi que eu tenho que ser um Scrum Master mais malvado (risada macabra), porque ele me achou bonzinho demais… Por ele o P.O. tinha sido expulso da sala duas vezes, mas eu confesso que ainda não sei fazer isso. Mas fiquei feliz de saber que estamos no caminho certo. Foi uma oportunidade única e inenarrável.

Se alguém quiser ver, tem mais algumas fotos no meu Flickr.

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Certified Scrum Master!

Curso de ScrumNa última semana tive a oportunidade de assistir ao treinamento de Scrum da Sprint iT. O instrutor foi ninguém menos que Boris Gloger, que foi o primeiro Scrum Master treinado pelo Ken Schwaber em pessoa!

Nem preciso dizer que o curso foi sensacional – fora o fato de ter me tornado o mais novo Scrum Master do pedaço! O Boris têm uma didática excelente e tive a oportunidade de tirar várias dúvidas que vinham me perturbando há algum tempo. Apesar de já ter lido alguns livros sobre Scrum esse treinamento conectou vários conhecimentos na minha cabeça e eu me sinto agora com uma visão clara como cristal de como tudo funciona.

Para ter uma idéia melhor de como é o treinamento você pode ler dois posts do José Papo resumindo a agenda e dando suas opiniões em seguida.

O curso é cheio de surpresas e eu não vou contar nada aqui para não estragar a experiência. Mas o ponto é que através de exemplos extremamentre simples e didáticos a mensagem é transmitida. É impossível não sair da sala no fim do dia extremamente motivado a mudar!

WUFF!