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Engenharia de software

Programadores ou apertadores de botão?

Ontem estava conversando com uns amigos sobre os novos programadores que estão surgindo por aí, especialmente os que usam o Visual Studio .Net. O Visual Studio nem parece que foi feito para pessoas que sabem programar. Muitas vezes não dá para fazer certas coisas programando código mesmo, você é obrigado a usar um dos milhares de wizards da ferramenta.

Um dos meus amigos estava contando que quando ele começou a programar estava precisando colocar um combo box numa página e os itens deste combo precisavam ser lidos de uma tabela do banco de dados. Ao procurar na internet para descobrir como isso era feito, as únicas referências que ele encontrou eram de wizards! Simplesmente ele não conseguia encontrar uma página que mostrasse o código para fazer o que ele queria.

Eu ainda não tirei minhas conclusões definitivas sobre isso. Ás vezes eu acho que as pessoas estão ficando preguiçosas, ás vezes eu acho que falta mesmo qualificação para os programadores e ás vezes eu acho que é tudo isso ao mesmo tempo. Ultimamente a quantidade de gente desse tipo tem aumentado muito por aí. As novas ferramentas de desenvolvimento estão tornando os programadores em apertadores de botão!

Programar é uma atividade intelectual que exige conhecimento técnico (linguagens, plataformas, sistemas operacionais, tecnologias), conhecimento específico sobre o negócio para o qual o sistema é desenvolvido, capacidade de resolver problemas e criatividade. Quanto mais as pessoas se preocuparem em aprender sobre ferramentas ao invés de tecnologias e práticas de desenvolvimento, mais vão surgir os apertadores de botão e as características acima vão sendo substituídas por conhecimentos de wizards, opções da ferramenta e botões diversos que fazem coisas mágicas.

Na semana passada saiu um artigo na Artima entitulado Visual Development versus Coding que fala exatamente sobre isso.

A opinião do David Intersimone é a mesma que a minha: é muito legal ter ferramentas visuais para te ajudar a fazer as coisas, note bem, para AJUDAR. Mas se você precisar (e vai), você tem que saber codificar.

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Engenharia de software Refactoring

Otimização prematura

Dando uma olhada em uns projetos que estavam no meu Eclipse encontrei um projeto antigo de uma empresa que eu trabalhei. Esse projeto teve o desenvolvimento mais curto da história: 1 dia! É sério, ele acabou no mesmo dia que começou por uma série de razões.

Mais isso foi só uma pequena introdução, a história de verdade não é essa. Dê uma analisada num trecho de código deste projeto que foi desenvolvido por alguém lá da equipe (detalhe: leia atentamente o comentário):

public class Usuario implements BussinessObjectModel {
 
    protected UsuarioDTO usuarioDTO;
 
    public void login() throws Exception {
        if(this.usuarioDTO == null || this.usuarioDTO.getSenha() == null || this.usuarioDTO.getUsuario() == null) {
            throw new Exception("Erro");
        }
 
        /**
         * TODO: codigo do login.
         * ir no banco de dados, decriptar a senha, comparar
         * com o cara. logar no JMS, mandar um SMS, atualizar
         * o cache de usuarios, fazer uma chamada ejb remota
         * dizendo que o usuario entrou.
         */
    }
}

Donald Knuth já dizia que a otimização prematura é a raiz de todo o mal. Mas acho que quando ele disse isso jamais imaginaria uma otimização TÃO prematura. Em toda a minha vida esse foi um dos maiores exemplos de overdesign que eu já ví!

Repare: era o primeiro dia do projeto. Nem sabíamos direito o que precisava ser feito e o cara já decidiu que a aplicação deveria ter DTOs, JMS, EJB e cache de usuários… Sem sequer pensar no problema o programador decidiu adicionar uma complexidade enorme e desnecessária ao sistema.

Quando se desenvolve um projeto de software, a primeira coisa que deve-se fazer é atender aos requisitos funcionais do cliente da forma mais simples e rápida possível. Em seguida faz-se refactoring do código para que ele seja melhorado e no futuro possa se adaptar melhor a eventuais mudanças. E só.

Isto significa que neste momento você não se preocupa com cache, por exemplo. Se por acaso algum dia houverem problemas de performance, aí sim, pensa-se em cache, distribuição da aplicação e etc. Neste caso esta aplicação estava prevista para ter pouco mais de 10 usuários simultâneos, uma quantidade de acessoss ridícula para se pensar em otimização.

Os desenvolvedores têm uma mania horrorosa de overdesign, especialmente os desenvolvedores Java. É preciso parar de tentar adivinhar o futuro e se concentrar mais nos problemas que precisam ser resolvidos agora. Deixe os problemas do futuro para serem resolvidos no futuro!

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Engenharia de software XP

Como produzir software “coxa”

Acabei de ler um post no blog do Phillip que me lembrou de uma história que eu queria escrever aqui.

A história que você lerá a seguir é uma dramatização do que acontece diariamente no mundo do desenvolvimento de software carinhosamente entitulada Como desenvolver software “coxa”.

Imagine uma empresa que está com necessidades de desenvolver um software. E imagine também que esta empresa (cliente) contratou uma empresa de 3 letras para fazer o trabalho.

Então, o projeto começa com a empresa contratada fazendo uma análise extensa do que será desenvolvido. Caso você não saiba, estas empresas te fazem acreditar que o RUP tem uma fase de análise antes de tudo, quando isso na verdade caracteriza um processo de desenvolvimento waterfall que é bem diferente do processo de desenvolvimento iterativo do RUP.

Depois de analisar exaustivamente tudo que precisa ser feito, eles acham que sabem tudo que o cliente precisa e com isso acham que sabem exatamente quanto tempo irá levar. Baseado nisso é estipulado um prazo de entrega do software para o cliente, assim como é estipulado um preço fixo para o trabalho.

Fechado o contrato, o projeto é iniciado. E quando começa o projeto sempre acontece a mesma coisa: a equipe de desenvolvimento começa a descobrir que certas coisas não são tão simples quanto pareciam ser. A equipe se depara com vários problemas que não haviam aparecido na fase de análise e cada vez fica mais chocada com a quantidade de coisas novas que vão surgindo. Nesse momento a equipe percebe que o projeto, que estimou-se que precisaria de 4 meses para ser desenvolvido, na verdade precisa de 8 meses para ser desenvolvido!

Então alguém surge com a brilhante idéia de contratar mais pessoas para a equipe. Afinal de contas, da mesma forma que nove grávidas conseguem parir um filho em um mês, 20 desenvolvedores conseguem fazer na metade do tempo o trabalho que 10 fariam – parece perfeito!

Mas espera aí, o preço já está combinado com o cliente desde o início. Então contratar mais pessoas é a maior furada, porque o cliente não pagará nada a mais por isso e se o custo do projeto for maior a empresa não terá lucro. Pior ainda, a empresa pode ter prejuízo! Neste momento a empresa decide comuncar ao cliente que o projeto terá que atrasar.

Quando a empresa vai dar a notícia para o cliente o cara normalmente quer matar o gerente do projeto, quer se matar, ou OS DOIS (depende do tamanho do projeto)! Afinal de contas ele pagou 50% adiantado e quer logo o retorno do seu investimento. Se o projeto ia demorar 4 meses e agora vai demorar 8, significa que todo o seu planejamento financeiro e de retorno de investimento do software foram por água a baixo. Nesse momento o cliente bate na mesa com força e diz: “se virem, eu não quero nem saber como vocês vão fazer mas eu quero o meu software na data combinada!”.

Exatamente neste momento foi parido um software “coxa”!

Vou explicar fazendo uma analogia: qualquer criança de 10 anos sabe que não existe “bom, bonito e barato”. Ou é bom, bonito e CARO; ou é RUIM, bonito e barato; ou é bom, FEIO e barato. Não tem jeito, é assim que funciona, não é possível ter tudo ao mesmo tempo.

Com software funciona exatamente da mesma forma. Só o que muda são as dimensões: qualidade, tempo e custo. Da mesma maneira que não existe nada bom, bonito e barato, não existe software “bom, desenvolvido rápido e barato”. Ou é bom, desenvolvido rápido e CARO; ou é bom, DESENVOLVIDO EM MUITO TEMPO e barato; ou é RUIM, desenvolvido rápido e barato.

No caso deste projeto repare que duas das dimensões do software não podem ser alteradas: preço (porque já foi combinado com o cliente e está em contrato) e tempo (porque a data de entrega já está estipulada). Sendo assim, como não dá para ter tudo ao mesmo tempo, a qualidade vai para o brejo. Neste momento é que vem a ordem do gerente de projeto: “gente, faz qualquer coisa aí, o importante é entregar o que foi combinado com o cliente, não importa como, faz tudo nas coxas mesmo!!”. E mais um software “coxa” será entregue.

Se eu contar os softwares “coxa” que eu já ví por aí ninguém acredita. O mais bizarro deles e que não poderia deixar de ser citado tinha o seguinte código na tela de autenticação (PHP):

if (($_REQUEST["login"]  == "admin") && ($_REQUEST["senha"]  == "1234")) {
    header("Location: index_autenticado.php");
} else {
    header("Location: index.php?mensagem=Login%20invalido");
}

No final das contas, quando o projeto é entregue, o cliente vê as telinhas e se as telinhas estiverem aparecendo e estiverem no mínimo bonitinhas ele vai dar pulos de alegria! Eventualmente até irá contratar a empresa para outro projeto ou indicar para amigos e outros projetos dentro da sua empresa. Por baixo dos panos existe esse monte de lixo, mais ou menos como um vulcão que pode entrar em erupção a qualquer momento causando efeitos devatadores! Deixa só alguém pedir para trocar a senha do sistema para ver o que vai acontecer…

Para mim é claro como água: não adianta querer prever tudo que acontecerá no projeto e pré-fixar datas e valores. É receita certa para fazer lixo. Já está mais do que provado que não funciona, porque insistir no mesmo erro?

Se você que está lendo se identificou com a história (o que não é nem um pouco difícil), sugiro fortemente que você leia sobre um modelo de contrato de desenvolvimento de software proposto pelo XP que muito me agrada: o Contrato de Escopo Negociável. O artigo é bem grande mas vale apena ler até o final! Você vai perceber que as coisas não precisam ser assim tão tristes nos projetos de desenvolvimento do software.

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Controle de qualidade Engenharia de software TDD

Qual é o percentual ideal de cobertura de testes?

Ontem estava tendo uma discussão com um amigo aqui do trabalho sobre cobertura de testes.

A nossa discussão começou quando eu fui mostrar para ele um teste de aceitação em Selenium que eu fiz para uma parte do sistema de gerenciamento de conteúdo da empresa.

Ele estava argumentando que acha que os testes de aceitação com Selenium não são tão interessantes porque eles são muito frágeis – alterações na interface podem quebrar os testes. Realmente isso pode acontecer. Mas se acontecer é só reescrever o teste, oras! Antes dele quebrar ele será executado várias vezes e só nisso várias horas preciosas podem ser economizadas.

Repare o seguinte: você efetivamente testará as telas do sistema navegando nele, incluindo, editando e removendo itens. Se este trabalho pode ser automatizado, porque não fazê-lo? Não é melhor gastar o seu tempo para elaborar novas táticas de testes e novos testes de outras partes do sistema ao invés de ficar navegando em todas as páginas “manualmente”?

Discussões deste tipo me fazem lembrar do manifesto Testivus, que dentre outras coisas prega que: “An imperfect test today is better than a perfect test someday” (Um teste imperfeito hoje é melhor do que um teste perfeito algum dia). Mesmo que os seus testes não sejam os melhores do mundo e que vez ou outra precisem ser corrigidos, é melhor tê-los do que não ter teste nenhum. Com o tempo a cultura de testes fica impregnada na equipe e os testes vão ficando cada vez melhores e mais numerosos.

É claro que eu não concordo que os testes possam ser um monte de lixo que não testam nada. Eu só acho que não se pode ter uma abordagem dogmática em relação aos testes. Se a sua aplicação tem 50% de cobertura de testes eu não acho isso ruim. Aliás, é BEM mais do que a maioria que existe por aí. Mesmo assim você pode (deve) testar bem mais.

Concluindo, eu particularmente gosto muito de utilizar a abordagem de desenvolvimento guiado por testes (TDD). Com TDD você tem uma cobertura de testes significativa já que os testes vão sendo escritos na medida que a aplicação é escrita. Porém se isso não puder ser feito por algum motivo, não acho correto estipular um percentual mínimo ideal de cobertura de testes. Só acho que deve-se testar muito e quanto mais, melhor.

Coincidentemente saiu ontem uma matéria no InfoQ sobre este mesmo assunto que vale apena a leitura.

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Engenharia de software

Joga fora no lixo!

Acabei de ler um post bem humorado no Blog do Maurício Linhares sobre entulhos que você guarda durante toda a vida sem saber o porque.

Fiquei me sentindo meio idiota porque eu sou O CARA que guarda as coisas! Não sei porque mas eu tenho uma tendência fortíssima a me apegar as coisas que eu desenvolvo.

Vou tentar me policiar para não fazer mais isso, já que o que o Maurício falou faz sentido completamente: o que importa para você não é o software que você desenvolveu mas sim a experiência que você adquiriu e aprendizados que teve ao desenvolvê-lo.

Leitura recomendada.